Mortes inocentes I

A morte dos peregrinos na Arábia Saudita ajuda a fixar o carácter sangrento que pautua este tipo de eventos no Médio Oriente. O episódio do ano passado no Iraque com o pânico na ponte é um habitué.


Vamos buscar outra causa que não o pânico e fuga em massa em multidões a la Heysel Park.
A 3 de Julho de 1988, um A300B2 registado como EP-IBU da Iran Air operava o voo IR655 de Bandar Abbas para o Dubai. O A300 era o nº 186 da linha de produção de Toulouse em 1982 e foi o primeiro modelo da Airbus. Era um voo curto de 28 minutos, saido pelas 10h15 da manhã. Iam 290 pessoas a bordo das quais 66 eram crianças, e apenas 38 eram não iranianos.



Por lá perto, no Estreito de Hormuz andava o cruzador USS Vincennes da marinha americana (US Navy). O cmdt do avião iraniano, Mohsen Rezaian, iria sobrevoar o seu congénere maritmo o cmdt William C. Rogers III.Essa navio participava na Operação Earnest Will destinada á protecção de petroleiros Kuwaitianos durante a guerra Irão-Iraque nos anos de 87 e 88. As relações US-Irão estavam ainda mais tensas que o costume porque em Maio um F-14 da Força Iraniana disparou, alegadamente por engano, um Exocet contra o USS Stark, causando a morte a 38 marinheiros.


O USS Vincennes, em plenas águas territorias iranianas, dispara 2 misseis terra-ar. O primeiro acerta em cheio, partindo o Airbus em dois e provocando a morte de todos os seus ocupantes.

Aparentemente foi confundido com um F-14 iraniano. O USS Vincennes usou o novo sistema informático AEGIS para indentificação de inimigos aéreos. Esse uso foi criticado por outras entidades da Marinha, que citavam o cmdt Rogers como tendo afirmado que ia abater um avião a qualquer custo. Antes tinha já andado a disparar contra navios iranianos.

Os americanos afirmam que tentaram contactar o A300...numa frequência militar!! Que não era a mesma que o piloto usou para contactar o controlo de aproximação de Bandar segundos antes do disparo do missil fatal.

Além do mais os americanos estavam a tentar contactar um F-14, normal que o A300 não se
achasse a mensagem dirigida a si.

O relatório de investigação US foi apenas parcialmente revelado, uma parte nesse ano e outra em 1993, fazendo desacreditar todo o processo por muitos observadores externos.

Além de não admitir culpabilidade mesmo confirmando que o missil foi seu, os US culpam actos hostis iranianos como causa do acidente. Para maior cúmulo várias pessoas da tripulação do Vincennes desse dia foram condecoradas por manterem "compostura e confiança debaixo de fogo".

Citando o Bush "papá", um mês depois, "I will never apologize for the United States of America, ever. I don't care what the facts are."

O Tribunal Internacional de Justiça fez com que em 1996 os pagassem ao Irão, 61.8 milhões de USD pelos 250 iranianos falecidos. No entanto, afirmavam o pagamento como ex gratia (i.e. esmola) e não em compensação pelas vítimas pela quais não assumiam quaisquer culpa.

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