Os Lixeiros do Mar



Esta paisagem é o navio de marinha mercante canadiano que encalhou na Ilha do Faial. O CP Valour vinha ancorar para reparação não prevista, a interromper viagem entre o Canadá e o Norte da Europa. Com 170 metros de comprimento e 17 000 toneladas de arqueação bruta fez a manobra de proa para a costa, e a cerca de 1 milha náutica e ao ralenti decidiu meter marcha a ré, o que levaria quatro minutos a fazer efeito. Bateu forte no fundo do mar, arrastando-se até ao seu leito de morte.

O casco ficou arruinado e inundado, tal como a carga no porão. Era velho demais para que valesse a pena salvar as máquinas. Felizmente não trazia cargas perigosas (o pouco que trouxe foi resgatado para terra com um heli Kamov trazido de C-5 até Santa Maria). Um navio tanque removeu as 500 toneladas de fuel lá dentro e apenas restou a carga e o ferro velho. Inicialmente tentou-se usar outro navio mercante trazido do Norte de Áfica para "roubar" os contentores para o seu porão, tarefa ingénua a ser feita com uma grua a operar entre duas plataformas não estáveis.
Foi contratada um firma de recolha holandesa, especialista em ser "abutre" de navios para remover o resto por motivos ambientais. Há cerca de um mês e meio montaram uma plataforma de 65 x 55 m com uma grua de 300 T para içar contentores para uma enorme barcaça de 160 x 50m de comprimento. A plataforma assenta em 4 braços hidraulicos que se congiguram individualmente em função da morfologia do fundo do oceano. Entretanto fica um rebocador ao largo para rebocar a barcaça mal a ondulação passe dos 2/3 metros. Entre o CP Valour e a costa está outra barcaça a cortar o navio. A ponte foi removida em grande parte, e existe uma prensa para dobrar o metal em placas planas, cortadas a maçarico. Em 1h30 que estive a observar a manobra retiraram-se 3 contentores apenas.
Trabalham neste momento ali cerca de 80 pessoas em simultâneo, todas estrangeiras, e podemos apenas imaginar o custo diário destes meios pagos pela seguradoura. Restam 150 contentores, o que durará para mais 3 semanas, antes de voltarem a colocar o casco a flutuar e rebocá-lo para algum estaleiro para desmantelamento. Demoras para além do previsto poderão ser fatais, visto o mau tempo de Inverno estar prestes a bater á porta.
O cheiro proveniente das operações é um podre nauseabundo semelhante a carne estragada. Presumo que carga alimentícia apodrecida com contacto com a água do mar.

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