Viagem a Cuba - Parte III - Rumo a Santiago

Ao fim de 2 noites, decidimos prolongar a estadia por uma noite mais antes de tentar procurar voos para Santiago de Cuba, e também reservar as últimas duas noites antes de voltar para casa. Estávamos a pagar cerca de 70 euros por noite, e pensávamos que nos iriam manter o preço. Pois mais uma vez as coisas não funcionam assim na hotelaria. Os hoteis têm tabelas de preços oficiais locais a preços exorbitantes, o nosso quarto ficaria por 200 CUC (160 euros), no máximo faziam um desconto de 10%. Pensando que era esquema daquele hotel fomos a outros 2 e vimos que é mesmo assim. A solução era simples, ir á internet e marcar do exterior. O que parecia fácil foi quase impossível, visto não haver quase webcafés por lá, apenas se pode aceder nos hoteis. Fomos ao hotel Florida e pedimos acesso, uma coisa muito delicada. Esperámos na recepção em sofás com ar de terem 50 anos de uso, e lá nos levaram a uma sala quase clandestina, onde por 6CUC meia hora tivemos acesso. Foi inutil porque era 56k partilhada e nenhuma página de pagamento chegava a carregar por completo, apesar de não parecer haver nada censurado. Fomos ao hotel NH parque central, e aí após registo dos passaportes num processo que parecia ser para acesso aos arquivos da PIDE, conseguimos acesso decente, e marcámos os hoteis a 80 euros, decidindo ir nesse dia para Santiago de Cuba. Os voos internos (nem externos) da Cubana não podem ser marcados na net, e loja deles não abre o fim de semana. A agência de viagens do hotel garantiu-nos que se fossemos ao aeroporto ás 16h e falássemos com a Miriam que nos metia no voo das 19h55. Estranhando estas horas, mesmo assim ficamos convencidos que se se tinham dado ao trabalho de andar ao telefone por causa de nós, alguém ia ganhar com aquilo e que tudo ia correr. Escolhemos destino SCU porque é uma cidade com muita história, inclusive da revolução, e porque ficava perto de Guantamo Bay onde se pode tirar fotos da base USA a partir de um miradouro. Outro motivo era a operação com averonave Yakovlev 42, uma raridade (60 a voar actualmente).
Chegando ao aeroporto pelas 15h, vemos um terminal (T1) muito mais modesto que o international (T3). No voo das 16h30 não seria possível, nem tinhamos interesse por ser operado com ATR, apesar de termos ido ao balcão pelas 15h e conhecido a Miriam. Havia algum esquema mas não era perceptível. Pelas 16h lá nos vendeu 2 bilhetes a 115 CUC cada (no máximo aldrabou 1 ou 2 cUC, se tanto) mas nunca tivemos recibo nem nada. Foi ao balcõa de check-in, entregou um papelito ao senhor que lá estava, e ele checou-nos á frente dos outros pax todos. De certeza que houve ali esquema e meteram o dinheiro do bilhete ao bolso, tanto que para o voo de regresso apenas nos fizeram uma reserva e os bilhetes teriam de ser comprados em Santiago, apesar de haver lugares garantidos. O avião seria novamento o IL96, voo CU471 dizia a Miriam ser proveninente de Paris (mas de Madrid, o mesmo que viemos).
O terminal tinha as todas as escadas rolantes avariadas, os WC nem papel higiénico nem sabão, as lojas eram anedóticas.
Em santiago ficamos no Meliá de 5* estrelas, que nos pareceu muito bom, de noite. O caminho de taxi foi pela estrada sem iluminação, e ficámos a saber que o miradouro para Guantanamo Bay está encerrado pelo governo. No hotel os elevadores estavam avariados, e tivemos de usar os de serviço, numa zona menos bonita do hotel. Apesar de ter apenas 18 anos, muita coisa parece ter um par de décadas mais, como as portas por exemplo. O Meliá cubano é 51% espanhol e 49% governo cubano, senão imaginamos….
De manhã acordamos com um abanão violento no quarto, semelhante a uma explosaõ de uma bomba no quarto ao lado, mas sem som, fumo ou estilhaços. A luz caiu, na recepção ninguém atendia, e ouviam-se vozes agitadas das ruas. Decidimos descer pelas escadas de emergência. Na recepção confirmaram ser um terremoto, habitual naquela zona do Páis, mas evacuação nada. Alcançou 5.1 na escala de Richter.
Na rua, com um clima quente e muito húmido fomos ao monumento dos revolucionários que foram assassinados na Bolivia em 1967, entre eles o Che. Um jinitero, o Seusi veio ter connosco e fomos passeando com ele, servindo de guia no monumento até á policia ter vindo dizer que era uma senhora que tinha esse direito (á “propina”, gorjeta). A senhora explicou com entusiasmo como foi o conceito do minumento e a vida dos herois. Falou-nos do “Granma” iate no qual desembarcou Fidel e cia para a revolução. Até ai sabíamos granma ser uma provincia e o nome do jornal principal. Dissemos-lhe que a tradução de “granma”, certamente palavra americana, era “abuelita”. Disse que seria “Grand Mother” e não acreditou que o nome pudesse ser quase calão americano.
Em conversa com o Seusi afirmou ter sido lutador de boxe e actualmente era professor de educação fisica, a tirar uma licenciatura na área, já que o ensino é grátis. Como todos os cubanos, Portugal é sinonimo de Figo e Ronaldo, mas da Madeira ninguém ouviu falar. Até que lhes dizemos que é a ilha para onde ditador Fulgência Batista fugiu, aí reconhecem logo a tal ilha que sabiam ser pros lados da Europa. Pelo caminho confirmou-nos todos os custos de vida, e probleas do sistema. Parámos numa loja onde não nos tentou impingir nada. Pediu um CUC comprou um maço de tabaco e depois pagou-nos uma viagem de carroça na Alameda, perto da antiga fábrica do rum Bacardi, actual Matuzalem depois da familia do catalão ter reclamado a marca e movido a produção para Puerto Rico. A carroça levava umas 10 pessoas, e dado o piso andava a metade da velocidade dos carros. Levou-nos a uma loja de uma fábrica de charutos, mas disse-nos que não comprássemos nada porque podia arranjar um esquema de venda de puros roubados da linha de produção. Ficou lixado quando comprámos 2 charutos de cada marca que tinhamos intenção de levar, Cohiba (os do Che) e Montecristo (os do Fidel). Como não percebemos nada de charutos resolvemos levar para comparação. Entrámos numa casa, horrível paredres por pintar, frigorifico dos anos 60, onde nos apresetaram sem grande imposição várias caixas. Comprámos uns Montecristo no.4 por 30 CUC e uns Cohiba em caixa de madeira por 40, após revisão dos selos e comprovarmos que os charutos cheiravam igual os originais. O Seusi explicou que uma senhora roubava da linha de produção, e todo este esquema gerava parcelas para ela, segurança da fábrica, responsável produção e os Jeniteros.
Depois disse-nos que nos levava a um restaurante “Casa de Paladares”, um dos poucos negócios privados permitidos pelo regime, em que as pessoas podem ter restaurante até 12 lugares em sua casa. O esquema de Bed&Breakfast é também autorizado, claro que com imposto de 50% para o estado. Comemos lagosta, camarões, pera abacate e bebemos cerveja Cristal. Sabendo que era barato, e não desconfiando do Seusi, não perguntámos os preços. Chegou uma conta de 67 CUC para os 3, o que achámos claramente inflacionada, mas tendo comido bem e tido uma agradável conversa, não nos causou demasiado transtorno. Voltámos para o hotel num Chevrolet Belair de um amigo do Seusi que teve o cuidado de não explorar demasiado cobrando 3 CUC, o que fez o amigo entusiasmar-se pouco. Como há notas de 3 CUC (nuna tinha visto notas de 3 seja qual for a moeda) por vezes os trocos são complicados, de modo que lhe demos um CUC a mais, e depois até fotos no assento do condutor tirámos.

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