Viagem a Cuba - Parte II - Primeiro contato diurno com Havana
Fomos ter á zona onde está o Capitólio, comparável ao de Washington. Ai estão os “jiniteros” a assediar o turista com 1001 esquemas tipo charutos “puros”, taxis etc. É uma boa ideia dar-lhes troco, porque são afáveis e não têm problemas e falar da sua vida em Cuba, desde que não esteja a omnipresente polícia nem PNR (guarda da revolução) a ouvir. A repressão é numerosa mas na realidade mais preocupada em receber para virar a cara para o outro lado. O rapaz chamava-se Alfredo e era músico da tecla, além de professor. Levou-nos a um dos bares parada comum do grupo Buena Vista Social Club, retratado no filem do Wim Wenders, onde havia fotos de Ibrahim Ferrer. Tirámos uma foto com chapéu, praxe, e sentámo-nos a beber um Mojito. Aí estivemos cerca de uma hora a discutir os dois páises. Mostrou-nos o seu BI (escrito á mão, nomal lá) e contou-nos que recebe em “Che”’s, o peso CUP que não tem cotação para o exterior, embora seja 24 para 1 em relaçao ao CUC. Recebia uns 200 por mês (algures pelos 10 euros), mais senhas de racionamento para 5 libras de arroz, 2 sabonetes, 3 litros de leite e mais alguns bens essenciais, mensalmente. Carne apenas com CUC, em lojas do estado. Não tinha telemóvel, espantoso dado que por exemplo na India toda a gente tem um, nem conta bancária. Ficou estupefacto com o sistema que temos na Europa, com o conceito de impostos, e com o crédito bancário. Depois começou a tentar vender charutos, que recusámos. Quando veio a conta dos Mojitos, eram 40 CUC, 8 CUC cada um dos 5, um roubo monumental. Percebemos logo que era esquema típico, e que cometemos a asneira de não perguntar o preço antes. Em qualquer caso o preço deveria andar pelos 3,5 CUC já de si muito caro, mas pelo menos o rum devia ser verdadeiro. Tinhamos 36 CUC, de modo que tivemos de ir procurar ATM com o Alfredo para ir levantar. Na rua o rapaz já não se atrevia a falar de nada de Cuba, pensámos que o bar deve pagar para a polícia nem meter lá os pés. Ao fim de muito andar encontrámos um ATM, onde um segurança só deixava entrar estrangeiros e cubanas com cartão na mão, e levantámos o dinheiro. Pese á clara aldrabice, ainda demos 15 CUC ao rapaz, que começou quase a chorar por uma ajuda para a familia. Este é o denominado “esquema do Mojito”, um dos mais comuns para levar turistas a abrir cordões á bolsa.
O talão do ATM trazia uma informação estranha. Em vez de conversão para Euros, o CUC é convertido dólar, primeiro. Ou seja apanhamos com 2 conversões em qualquer uso dos cartões, e as taxas de câmbio e impostos de selo a dobrar. E mais um roubo que é a taxa de penalização ao dólar. A triangulação de câmbio CUC-USD-EUR não é a mesma que CUC-EUR-USD, porque Cuba decidiu impor 20% de penalização á circulação do USD, mas ao mesmo tempo força o câmbio sempre pelo dolar.
Dando uma volta pela cidade, vamos vendo os inúmeros outdoors na estrada, e murais coloridos. Não se uma única publicidade a marcas estrangeiras, 90% são de motivos políticos. Ou a elogiar os “51 anos de vitórias”, “os 5 herois presos nos US”, o atentado terrorista ao DC-8 da Cubana há 34 anos, a vitória dos ideias, publicidade do Chavez e o nosso preferido contra “La Injerencia del imperio Ianqui y la Union Europea”. Deste não dispomos de foto porque apena o vimos junto ao aeroporto, mas apenas visivel no caminho para terminal nacional, muito pouco usado pelos turistas. Revela este ainda mais a hipocrisia do regime já que o país vive do turismo europeu, e a Comissão Europeia tem pago muita da restauração do centro de Havana.
O que mais nos chocou foi o comércio local. Estávamos plenamente convencidos que iriam haver lojas de produtos externos ao virar da esquina e que na realidade os embargos (tanto o americano como o do regime) estariam furados por todo o lado. Pois estávamos totalmente enganados, visto que havia dois tipos de lojas, todas elas controladas ou (detidas na sua esmagadora maioria) pelo estado.
As de CUC vendiam roupa, bicicletas, livros, sapatos e compreendiam os supermercados/mercearias. Eram horríveis, tipos das da ex-URSS, com ar sujo, expositores tipo armazém e quase despidas de produtos. Quase todas tinham segurança á porta. As roupas eram coloridas e feias quase todas de marcas estranhas, a loja de bicicletas vendia apenas partes sobresselentes. Os supermercados eram pequenos e tinham meia dúzia de produtos, novamente de marcas esquisitas e com ar á anos 70. Os produtos mais caros tinham cara de estar há anos nas prateleitas, poeirentas. Vimos leitores de DVD á venda, acima dos 120 CUC, mas DVD gravados nada, apenas sobre Cuba e nas lojas dos turistas. As lojas de carne não eram talhos.. Tinham um expositor onde apenas se via umas embalagens com fiambre e de miudezas de galinha. De longe a loja mais concorrida, e com fila a toda a hora na calle del Obispo, era a da ETACSA, a PT de lá. Os expositores, quasee vazios continham DVDs virgens (uma caixa), carregadores de telemóveis, cartões SIM, telefones fixos sem fios, e um telemóvel chinês ZTE do mais básico possível. Novamente, quase ninguém tem telemóvel, em parte pelo custo das chamadas, a 20 cêntimos de CUC pro minuto dentro do país. Os cartões custam 10 ou 20 CUC consoante o saldo que se quer. 20 CUC é o salário mensal de um médico!
As lojas para os locais, a vender em CUP são horrendas, parecem mercearias dos anos 30, degradas e também de prateleiras vazias. Umas tascas vendem umas pizzas pequenas a 12 CUP, tipicamente apenas com queijo e tomate. As farmácias não têm quase produtos nenhuns, e as lojas de senhas de racionamento nem se fala.
Há imensos velhotes na rua a vender amendoins em canudos de papel e como ardinas dos jornais do regime.
Em lado algum vimos um stand automóvel, revistas seja de que estilo for ou computadores.
Vimos algumas lojas com produtos Paul and Shark, D&G, Puma, Adidas mas com a mercadoria amarelecida. Apesar de não se verem computadores á venda, vimos sim diskettes de 3.5”.
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