Que se passa com a indústria inglesa?

Com o fim da produção do Avro RJ ao virar do milénio e cancelar do upgrade para o Avro RJX, acaba-se o ultimo bastião de airframing civil digno de registo em terras de sua Majestade. A BAE systems deixava a produção de airliners após ter lançado o Comet, BAC 1-11, Trident e Concorde. Mantinha-se no mercado até ter anunciado há poucos meses a intenção de venda da fábrica de asas da Airbus localizada em Filton.
A Inglaterra sempre desdenhou a Airbus, a Hawker Siddeley (hoje BAES) financiou o projecto das asas do primeiro Airbus A300 depois de o governo UK ter dado o dido por não dito e cancelado os fundos prometidos. Agora, com a Airbus em alta no mercado, tencionam vender essa parte para se virarem quase exclusivamente para o mercado americano. Não deixa de ser um bom encaixe financeiro, vender em alta após 1000 encomedas recebidas no ano passado e o A380 quase cá fora. Em Filton trabalham 18000 empregados, altamente especializados em estruturas. Não acredito que a fábrica permaneça lá a longo prazo. Acredito que a Airbus a venda a um pais que que esteja disposto a investir para ter postos de trabalho e para partilhar riscos de lançamento de novos modelos. Pouco a pouco a fábrica deverá ser mudada para longe de um território Boeing (a BAES faz muito trabalho para os de Seattle).
Um país onde muita da história da aviação foi escrita contenta-se em ver os outros construir aviões, fornecendo componentes e serviços de engenharia que são fundamentais. Continua a ser um player no mercado da aviação comercial, mas em segundo plano. A BAES de certeza que faz inchar o seu valor e retorno financeiro, mas será isto aquilo que é melhor a longo prazo? Será isto que o país precisa?

Até a Ucrânia, República Checa e Polónia levantaram-se da perestroika e andam a competir com o 1º Mundo no mercado de construção de aeronaves.

No sector automóvel não deixa de ser preocupante o estado das grandes produtoras de volumes. A Ford lá se safa, a Rover foi fechada comprada pelos chineses, a Jaguar lá se modificou e até carrinhas a diesel produz, mas a maior parte foi comprada pelas potências multinacionais. O Reino Unido ficou posto de lado dos grandes grupos globais em termos de parceria. Foram comprados, esventrados e revendidos (caso dos jeeps da Rover) ou simplesmente abafados. Mesmo a produção estrangeira os abandona, a Peugeout anunciou há 2 meses o fechar de uma fábrica perto de Everton com 13000 pessoas a ingressar no desemprego.

Há quem chame isto o novo capitalismo (ou neo-liberalismo). Os governos ficam a ver enquanto empresários capitalistas sem o mínimo de noção (ou interesse) do que são interesses estratégicos da nação tentam engordar o valor das acções das empresas ou gerar receitas líquidas independentemente do futuro. Fazem-no sem a mínima preocupação em termos emprego e de salvaguarda do posição industrial nacional. Ao governo (labour party!!!) nem lhes passa pela cabeça usar sequer subsídios para tentar salvar o poder do país.

O UK está cada vez mais um cachorrinho da América em termos industriais, para além do óbvio servilismo político encabeçado pelo Tony Blair. Contentam-se em produzir peças para os grandes projectos US (quintos fornecedores do mercado de Defesa norteamericano) enquanto puxam o tapete por debaixo dos pés dos colegas da UE.

Comments

com o demodé do Socialismo, o neoliberalismo tomou de assalto as grandes nações. Sem o travão que a esquerda mais reenvidicatica poderia colocar ao neoliberalismo. Foi a vitória do sector mais reaccionário e belicista do establishment norte-americano, de Donald Rumsfeld, Paul Wolfowitz, Dean Cheney que desde os anos oitenta lutaram para aproveitar a queda do socialismo e implementar o domínio global atravez da força.

Com o declínio e perda do pensamento politico nos países mais "importantes", o neoliberalismo é uma salvação para a classe politica. Com uma permanência no governo de quatro, máximo oito anos, os governantes tem mais uma gestão corrente dos países do que uma governação estratégica. O neoliberalismo é mais intelectualmene mais fácil e económicamente mais vantajoso, já que os subornos das multinacionais são bastante atractivos para quem fica tão pouco tempo no governo.
Já não existe um patriotismo e protecção do estado. Tudo se resume a números, mesmo que se perca a idêntidade nacional.
Onde antigamente os governos delineavam o crescimento da indústria automóvel e aeronautica como símbolos patrioticos. Agora os governantes limitam-se a receber comissões para facilitar a deslocalização das mesmas indústrias.

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